É cada vez mais comum que os profissionais que atuam na área de reformas de edificações se deparem com uma solicitação taxativa dos clientes: “queremos ter ar-condicionado no nosso imóvel”! Em alguns casos, o pedido é por um aparelho apenas na suíte principal, em outros, a demanda estende-se para a sala de estar e, em certas ocasiões, o desejo é de climatizar a casa/apartamento por completo.

Em muitas dessas situações, a falta de conhecimento dos projetistas aliada à má-fé ou despreparo das empresas instaladoras podem dar origem a problemas sérios para a edificação, com o surgimento de defeitos e manifestações patológicas de difícil solução.

Este artigo tem por objetivo apresentar aos arquitetos, engenheiros e decoradores  que trabalham com reformas em geral os principais cuidados ao escolher e implantar um sistema de climatização em uma edificação existente.

Principais sistemas de ar-condicionado domésticos existentes no mercado

Existem diversos sistemas de condicionamento de ar disponíveis no mercado, desde equipamentos de grande porte, destinados à climatização de grandes espaços; equipamentos que oferecem controle avançado de umidade e temperatura, além de filtragem de patógenos, para ambientes controlados como laboratórios e salas de cirurgia, entre outros. Nesse artigo, focaremos nossa abordagem nos dois tipos mais comuns a serem adotados em obras de reforma, por sua relativa simplicidade e maior facilidade de instalação e adaptação: o ar-condicionado de janela e os sistemas multi-split.

O ar-condicionado de janela

O aparelho de ar-condicionado de janela é um dos mais antigos e de fácil instalação. Fazendo jus ao nome, esses aparelhos são normalmente instalados em janelas ou paredes de edificações, a uma altura média de 1,60m em relação ao piso. Esse tipo de máquina reúne no mesmo aparelho as funções de condensação e evaporação do ar e, por isso, precisa estar em contato direto e simultâneo com o ambiente a ser climatizado e o meio externo.

Principais vantagens do sistema de janela

– Aparelhos compactos e que não requerem manutenção especial;

– Facilidade de operação e manutenção;

– Um aparelho por ambiente ou área específica;

– Não ocupam área útil interna, pois ficam presos na parede;

– Não demandam drenagem ou rede frigorígena de interligação.

Principais desvantagens do sistema de janela

– Pequena capacidade de refrigeração (não recomendado para ambientes grandes);

– Não tem flexibilidade;

– Maior custo energético, menor capacidade de resfriamento;

– Produzem muito ruído, pois o compressor fica dentro do aparelho;

– Sua instalação pode gerar modificações na fachada da edificação.

Sistemas de ar-condicionado multi-split

O sistema multi-split caiu no gosto da população nos últimos anos, grande parte em função da redução de preço dos equipamentos e, em segunda instância, pela flexibilidade de instalação e baixo nível de ruído na refrigeração dos ambientes.

Basicamente, o que esse sistema faz é separar o sistema de condicionamento em duas unidades: uma unidade condensadora, que é responsável pela troca de calor e fica fora dos ambientes, e uma unidade evaporadora, interna, que refrigera o ar e o impulsiona para dentro do ambiente. Os “splits” são equipamentos que se integram à maior parte dos ambientes com bastante facilidade e, como já dito, operam com baixo nível de ruído, pelo fato de o compressor ficar na parte externa da edificação, juto com a unidade condensadora.

Podem ser instalados junto ao piso, embutidos no forro ou no topo de paredes, junto ao teto, e oferecem uma grande gama de potências, que permitem climatizar com qualidade mesmo ambientes amplos e com grande número de pessoas.

Principais vantagens do sistema multi-split 

– Baixo custo do equipamento e da instalação;

– Baixo nível de ruído interno;

– Não são necessários grandes trabalhos de alvenaria para instalação;

– Permite o melhor posicionamento da unidade evaporadora nos ambientes;

– Possível relocar e remover o equipamento para outros ambientes;

– Não exige que o ambiente climatizado tenha proximidade com o meio externo.

Principais desvantagens do sistema multi-split

– Não renova o ar do ambiente;

– Deve ser prevista passagem para rede frigorígena nos ambientes, forros e paredes;

– Não é recomendável para espaços que exijam controle de umidade;

– Condensadora exige espaço apropriado para instalação, na área externa;

– Necessário prever rede de drenagem da unidade de evaporação.

Cuidados na escolha e implantação do sistema para sua obra

O projeto e instalação dos sistemas de ar-condicionado é regulamentado pela norma brasileira ABNT: NBR-16401/2008 e deve ser feito por profissional especializado, normalmente engenheiro mecânico, com emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica pelo serviço.

Em obras de reforma, é muito comum que o arquiteto ou decorador especifique apenas a posição da evaporadora dentro do ambiente, deixando todas as demais soluções técnicas para a empresa que fará a instalação, o que não é recomendável, pois não se sabe a idoneidade e mesmo o nível de capacitação dos operários que farão a instalação. Não é incomum vermos obras em que os instaladores embutiram dutos em paredes de alvenaria estrutural ou mesmo furaram elementos estruturais, como vigas e pilares, para passagem da rede frigorígena em sistemas multi-split.

Veja a seguir os principais cuidados e análises que devem ser feitas antes de optar pelo sistema e pela empresa instaladora no seu projeto:

1. Verifique se o condomínio está de acordo com a instalação do sistema

Edifícios mais antigos, em sua maioria, não foram preparados para receber sistemas de climatização, especialmente os residenciais. Por esse motivo, é necessário consultar o síndico do prédio sobre a possibilidade de se posicionar os equipamentos, que fatalmente irão alterar a fachada da edificação.

2. Cheque a rede elétrica da edificação

Aparelhos de ar-condicionado são elétricos! Mais que isso, são equipamentos que demandam uma grande potência energética para seu funcionamento adequado. Alguns deles, inclusive, podem demandar tensões de funcionamento diferentes das disponíveis na sua edificação (como 220V, por exemplo). Por esse motivo é imprescindível consultar um engenheiro eletricista e fazer uma análise da carga elétrica disponível para ligação dos aparelhos. Caso contrário, seu cliente irá conviver com quedas constantes dos disjuntores devido a sobrecargas no sistema. A longo prazo, tal fato irá reduzir a vida útil, tanto do sistema de climatização, como da instalação elétrica da edificação.

3. Leve em consideração o sistema estrutural

Em maior ou menor grau, a instalação do sistema de climatização irá gerar a necessidade de abertura de furos em alvenarias, passagem de dutos em forros, entre outros. Edificações de alvenaria estrutural que não foram projetadas para receber sistemas de climatização, dificilmente poderão ser adaptadas para esse fim, pois não é possível abrir ou furar as paredes. Da mesma maneira, edificações estruturadas em concreto podem oferecer dificuldades para instalação dos dutos em um sistema multi-split, em função de limitações de pé-direito, posicionamento de pilares, entre outros. Enquanto responsável pelo projeto de reforma, você deve ter plena consciência do posicionamento das máquinas e caminhamento dos dutos na edificação, para que possa conduzir as equipes de obra com segurança. Em último caso, consulte sempre um engenheiro civil.

4. Respeite as recomendações técnicas dos fabricantes

Aparelhos do tipo janela devem ser instalados a uma altura média de 1,60m do piso, para garantir a maior eficiência do sistema. Condensadoras do sistema multi-split devem obrigatoriamente ficar nas áreas externas, não podendo funcionar enclausuradas ou em ambientes fechados. Essas e outras recomendações dos fabricantes acabam nem sempre sendo seguidas, em função de limitações e condicionantes dos espaços em que as mesmas serão instaladas. O resultado disso são sistemas que não funcionam corretamente, tendo sua vida útil reduzida e gerando manutenções frequentes. 

5. Verifique sua rede hidrossanitária e a possibilidade de adaptação da mesma

As unidades de evaporação do sistema multi-split precisam estar conectadas à rede de esgoto sanitário da edificação, para que seja feita a drenagem da água que condensa no equipamento durante o resfriamento do ar insuflado. Normalmente essa drenagem, no caso de apartamentos, é feita interligando a unidade evaporadora à caixa sifonada ou esgoto da pia de um banheiro por exemplo. Deve ser avaliada a possibilidade de efetuar essa ligação, principalmente quanto à existência de vigas e outros elementos estruturais no caminhamento desse dreno. Em edificações de alvenaria estrutural, o embutimento do duto fica impossibilitado pelo sistema construtivo.

6. Posicione seu aparelho de maneira adequada dentro do ambiente

É comum vermos unidades de evaporação instaladas dentro de nichos nas paredes, semi-encobertas por armários e venezianas de madeira, instaladas em cantos escondidos dos ambientes, entre outros. Essas situações denotam duas coisas: falta de conhecimento da pessoa responsável pelo projeto e despreparo ou descaso da empresa que fez a instalação do sistema. Para funcionar bem e com melhor rendimento, as unidades de evaporação e aparelhos de janela devem estar posicionados em local alto, o mais centralizado possível dentro do ambiente e totalmente livres de quaisquer barreiras que impeçam o fluxo do ar frio. Tentar “esconder” os aparelhos por uma questão estética é um erro grave e que irá reduzir significativamente a vida útil dos equipamentos, além de prejudicar a eficiência do sistema de climatização.

7. Dimensione o sistema conforme a demanda do ambiente a ser climatizado

Os aparelhos de ar-condicionado possuem potências diversas de funcionamento. A potência dos aparelhos é normalmente registrada em BTU’s (British Thermal Unit – ou Unidade Térmica Britânica) que estão diretamente relacionadas à capacidade de resfriamento do sistema. Quanto mais BTU’s, maior a capacidade de resfriamento. Para calcular a potência adequada de cada sistema devem ser considerados:  volume do ambiente, número de pessoas que ocuparão o espaço, máquinas e equipamentos em funcionamento no espaço, entre outros. Existem alguns sites, como o WebArcondicionado, que oferecem uma calculadora online para cálculo de potência de ambientes mais simples, normalmente suficientes para dimensionamento de espaços residenciais ou pequenas salas comerciais. Para ambientes mais complexos, como auditórios, salas de reuniões, entre outros, é sempre recomendável que o dimensionamento seja feito por um profissional especializado.

8. Consulte sempre um profissional especializado e exija ART da instalação do sistema

Arquitetos e decoradores não sabem projetar ar-condicionado. Isso é um fato e não devemos ter nenhuma vergonha de assumir essa limitação, afinal, não fomos preparados para isso nas faculdades. No entanto, não podemos nos esquecer de que somos responsáveis pelo produto final das obras de reformas que conduzimos em nossa atividade profissional. Por esse motivo, é sempre recomendável consultar um especialista na hora de escolher e dimensionar o sistema de climatização para nossos projetos. Da mesma forma, convém exigir das instaladoras que as mesmas forneçam Anotação de Responsabilidade Técnica sobre os serviços prestados, para evitar que eventuais transtornos nos sejam imputados inadvertidamente.

Conclusões

O ar-condicionado torna-se a cada dia mais imprescindível para os clientes na contratação de um projeto de arquitetura. A climatização de ambientes é um item de conforto que agrega valor ao imóvel e amplia o bem-estar de seus ocupantes. Por esse motivo é importante que os profissionais ligados ao projeto e execução de reformas em imóveis estejam preparados para propor e acompanhar a instalação desses sistemas, garantindo a segurança e a satisfação dos usuários.

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