Autor: Engenheiro Wellington Ribeiro

Edificações de múltiplos andares têm em comum uma característica básica: praticamente todas elas possuem escadas para as ligações entre cada pavimento. As escadas são instrumentos de deslocamento vertical conhecidas pelo homem há milhares de anos tendo sido, durante muito tempo, os aparatos mais eficientes para os deslocamentos verticais nos espaços construídos.

Com a modernização da engenharia, o crescimento da população e o aumento das edificações, tornou-se imprescindível a adoção de regras que visem a segurança dos usuários. Essas regras, definidas através de leis e normas técnicas, aplicam-se também às escadas. Dessa forma, as escadas compõem hoje a principal rota de fuga vertical para as edificações em todo o mundo.

Porém, você sabe qual é o tipo de escada mais adequado à sua edificação, de acordo com as normas técnicas vigentes?

Nesse artigo, apresentaremos todas as tipologias de escadas de emergência, de acordo com a NBR-9077 e a IT-08 do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. Ao término do mesmo, apresentaremos ainda uma tabela comparativa que lhe permitirá definir o tipo de escada que deve ser adotado, de acordo com as características do seu projeto.

Generalidades sobre escadas em edificações

As escadas estão sujeitas a diversas normas reguladoras, para sua construção e utilização. Dentre as principais, podemos citar: o código de obras de cada município; a NBR-9077, que fala sobre as saídas de emergência em edificações; as Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros em cada estado; a NBR-15.575; a NBR-9050, dentre outras.

De maneira geral, todas essas normas e leis concordam em alguns pontos específicos:

– As escadas precisam ter sua largura compatível com a utilização e a quantidade de pessoas que utilizam a edificação;

– No caso de escadas de uso coletivo, a largura não pode ser inferior a 1,20m, limitada pelos códigos de obras municipais;

– Os degraus deve ter seus espelhos com alturas entre 16cm e 18cm, e a largura dos respectivos pisos deve ser definida de acordo com a Fórmula de Blondel, respeitando um bocel de 1,5cm;

– As escadas devem ser dotadas de corrimãos dos dois lados, ao longo da circulação de pessoas e, nos casos em que não houver paredes no entorno dos lances, devem possuir guarda-corpos;

– Os pisos de degraus e patamares devem ser revestidos por material antiderrapante.

Porém, além dessas características básicas, as escadas devem atender a outras exigências, conforme o tamanho, população, uso e grau de risco de cada edificação. Dessa maneira, as normas e instruções técnicas relacionadas à prevenção contra incêndio em edificações definem cinco tipos diferentes de escadas.

Como definir o tipo de escada para cada edificação

Para definir o tipo de escada para cada edificação, você precisa levantar algumas características básicas, definidas pela legislação de segurança contra incêndio em cada Estado. A seguir apresentaremos a metodologia adotada pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, conforme apresentado em sua Instrução Técnica Nº08.

Passo 1: Classificação da edificação quanto à altura

O primeiro passo é definir a altura da sua edificação. Vale lembrar que a altura, nesse caso, é a distância entre o piso do pavimento mais alto da edificação e o pavimento de descarga, ou escape. Uma vez que você tenha pegado esse dado no seu projeto, você deve compará-lo com a Tabela 01, na página 33 da IT-08:

Passo 2: Classificação da edificação quanto à área do pavimento:

Em seguida, classificaremos a edificação com relação à sua dimensão em planta. São três categorias a serem analisadas, segundo a Tabela 02 da IT-08. Você deverá classificar o edifício quanto à área do maior pavimento (Sp), quanto ao somatório da área dos pavimentos de subsolo (Ss) e quanto ao somatório da área de todos os pavimentos da edificação (St). 

Passo 3: Definição do grupo de ocupação, população e capacidade das rotas de fuga

Nessa etapa, definiremos o tipo de ocupação da edificação. Essa classificação é feita a partir de grupos designados por letras do alfabeto (A até M). O que define o grupo de ocupação é o tipo de atividade que é conduzida em cada edifício. A definição dos grupos e dos subgrupos é feita utilizando-se o Anexo A da IT-09 do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Uma vez feita essa definição, consulta-se a Tabela 04 da IT-8, para se calcular a população e a capacidade das rotas de fuga.

Passo 4: Definição do tipo e quantidade de escadas para a edificação

Depois de feitas as análises acima, a etapa final na definição do tipo de escada é comparar os dados levantados com a Tabela 06 da IT-08:

Uma vez executados esses pequenos passos, você terá conhecimento sobre o tipo e a quantidade de escadas demandados pela edificação que você está projetando. Você poderá perceber que edifícios maiores, cujo tipo de atividade concentre mais pessoas, demandarão um número maior de escadas. Além disso, as exigências de segurança para cada escada crescem à medida em que a edificação se torna mais complexa.

Apresentaremos a seguir os cinco tipos de escadas e suas características, de acordo com a IT-08 do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, ou seja aplicáveis apenas às obras a serem conduzidas neste Estado. Apesar de as exigências serem bastante similares em todo o território nacional, se o seu projeto for ser construído fora de Minas, você deve pesquisar as IT’s vigentes em cada localidade, buscando identificar eventuais diferenças e especificidades.

1. Escadas Comuns ou Não Enclausuradas (NE)

As escadas comuns, como o próprio nome diz, são aquelas que atendem apenas aos requisitos básicos apresentados acima, sem maiores exigências com relação a itens de segurança. Por esse motivo, seu uso é admitido apenas para edificações mais baixas, com altura máxima de 12 metros e populações reduzidas. O tipo de edificação e a classe de risco de incêndio também influenciam na possibilidade ou não de utilização dessa solução. Essa tipologia inclui as escadas ornamentais, com lances curvos e degraus em leque, ou engrauxidos.

2. Escadas Enclausuradas Protegidas (EP)

Esse tipo de escadas é comumente utilizado em edificações residenciais e comerciais com altura entre 12 e 30 metros. Nessa tipologia, os lances da escada são protegidos por paredes resistentes a, no mínimo, 2 horas de fogo contínuo. O acesso à escada também é fechado por porta corta-fogo (PCF), composta por materiais que lhe permitam resistir a pelo menos 60 minutos de chama.

A escada protegida precisa possuir aberturas de ventilação nos pavimentos acima da descarga (exceto garagens), nos termos da IT-08. Na impossibilidade de garantir a ventilação no corpo da escada, a mesma poderá ser localizada no corredor de acesso à mesma, desde que abrindo diretamente para o meio externo.

3. Escadas à Prova de Fumaça (PF)

As escadas à prova de fumaça são similares às escadas protegidas, porém contam com um cuidado especial quanto à entrada de fumaça no seu exterior. São comumente adotadas em edifícios de grande altura, ou cuja ocupação, de alguma forma, demande um controle maior do ambiente interno da escada. Para essa tipologia, as paredes que circundam a escada devem ser de alvenaria resistente a, no mínimo, 4 horas de fogo contínuo.

O controle da entrada de fumaça é feito a partir de antecâmaras ventiladas, que devem obrigatoriamente ser previstas no acesso da escada em cada pavimento. Essas antecâmaras são dotadas de dois dutos: um que permite a entrada do ar externo e o outro que retira o ar viciado. Esses dutos, quando em pleno funcionamento, propiciam que qualquer vestígio de fumaça que penetre na antecâmara seja sugado por efeito chaminé, evitando que a mesma chegue aos lances. O dimensionamento das antecâmaras e dos dutos deve seguir a IT-08.

4. Escada Pressurizada (PFP)

A escada à prova de fumaça pressurizada (PFP) tem o seu princípio de funcionamento semelhante à escada à prova de fumaça comum, ou seja, o importante aqui é manter a fumaça do lado de fora! No entanto, nesse caso específico, em vez de se valer das antecâmaras para esse fim, a escada conta com um sistema que bombeia ar, através de um compressor, para seu interior. Dessa maneira, a pressão interna fica constantemente superior à externa, impedindo a fumaça de entrar quando as portas são abertas.

As características construtivas são as mesmas da escada tipo PF. Para as escadas pressurizadas, o duto de insuflamento de ar pode ficar dentro do próprio corpo das mesmas, dispensando as antecâmaras. Essa característica torna essa solução muito interessante nas situações em que o espaço não permite a instalação dos dutos de ventilação natural, ou nos casos em que é necessário reduzir a área construída do projeto.

O dimensionamento do sistema de pressurização, seus requisitos de segurança e características técnicas são definidos pela IT-10 do CBMMG.

5. Escadas Abertas Externas (AE)

Essas escadas podem substituir qualquer uma das citadas anteriormente, em qualquer tipo de edificação, e são instaladas do lado de fora, nas fachadas das edificações. Por suas características construtivas, são comumente adotadas nos casos de adaptação ou adequação de edifícios existentes, quando não é possível construir novas escadas no corpo dos mesmos.

Construtivamente, essa escada precisa ter seu acesso regulado por porta corta-fogo (PCF) resistente a 60 minutos de chama. A parede que separa a estrutura da escada do interior do prédio deve ser resistente a 2 hora de fogo contínuo e qualquer abertura desprotegida da edificação deve estar situada a, no mínimo, 3 metros da estrutura da escada.

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